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quinta-feira, maio 26
tu disseste
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Mão Morta
(Adolfo Luxúria Canibal /Miguel Pedro)
terça-feira, maio 24
amanhã
"Não?", perguntei-te eu, a tentar soar distante.
"Não. amanhã, é um novo dia, eu posso não estar aqui, tu podes não estar aqui... não é nosso!".
"Então, deixa-me saborear-te hoje!".
Só eu sorri. Tu... estavas já perdido nesse amanhã que, para ti, chegara mais cedo.
segunda-feira, maio 23
célere
A noite foge-nosDebaixo dos pés,
Voa, célere, nas palavras
Arrastadas
Que nos escapam...
Joana G.
significado
dependable- adjective
- trustworthy or reliable;
- capable of being depended on;
- able to be trusted and very likely to do what you expect
domingo, maio 22
um dia qualquer
Se hoje mais não fosse
Que um dia qualquer
Encontrar-se-iam, então,
Os nossos lábios,
Famintos,
De algo que não sabemos
O que possa ser?
Joana G.
Foto: Bernd Mueller
escravo
Não seria ele muito mais escravo das palavras que guardava para si, recusando-se a dizer-lhas?
sábado, maio 21
pés
quarta-feira, maio 18
reminiscência
sítio do pica pau amarelo
A pedido, e porque fez parte da minha infância...Sítio do Pica-Pau-Amarelo
letra e música: Gilberto Gil1976
Marmelada de banana
Bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Boneca de pano é gente
Sabugo de milho é gente
O sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Rios de prata piratas
Vôo sideral na mata
Universo paralelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
No país da fantasia
Num estado de euforia
Cidade Polichinelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
Sítio do Pica-Pau-Amarelo
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ferramentas
medo de amar
O MEDO DE AMAR É O MEDO DE SER LIVRE
Beto Guedes e Fernando Brant
O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver tanta luz
"Ele era um homem de sucesso, tinha sido talhado para grandes feitos. Não havia nada em que se metesse que não fosse o melhor. A fazer, tinha de ser sempre em grande. Estava habituado a ter tudo o que queria e desejava. Seduzia tudo e todos sem se prender realmente. Andava sempre em busca de algo que talvez nunca encontraria. Era uma espécie de insatisfação de viver, uma necessidade a preencher, um vazio a colmatar...
Um dia, teve um flash por ela, a desejada. Não era Afrodite. Pelo contrário, era brasa que aconchegava e que ele quis incendiar. Era porto de abrigo onde quis atracar o seu barco viajante. Era dócil sem ser submissa, doçura que desejava saborear. Tudo fez para ser querido pela mais desejada e, como sempre, conseguiu-o.
E depois? Depois, levantou âncora e levou o barco para o largo. Andou à deriva dias e dias, mas nunca muito longe do porto de abrigo, espreitando disfarçadamente. Talvez estivesse perto de algo, não sabia bem o quê. Outros barcos cirandavam ao largo expectantes. De vez em quando, respondia aos sinais luminosos enviados pelo farol do porto para se assegurar que eram para ele, mas não lá voltou porque era mais fácil não atracar. Corria o risco de gostar e querer ficar..."
terça-feira, maio 17
tom sawyer
É o que dá ter amigos, que nos deliciam com estas relíquias! Obrigada, TZ!Carregar para ouvir!
segunda-feira, maio 16
tom & huck
abstracto concreto II
em mim
Sinto-te em mim!
Dói-me o corpo, sem o teu toque
Doem-me os sentidos,
Na nostalgia da tua ausência!
Sinto-te em mim!
Nas tuas mãos que me percorrem,
No aroma doce do teu corpo,
Que abala a minha existência!
Sinto-te em mim!
Nesse vazio de entretantos, em que não estás
No mundo que não existe, sem ti...
Joana G.
Foto: Christopher John Ball
domingo, maio 15
gostei
esquecer
Decoro-te, só um pouco mais
Enquanto te penso
Truque infeliz
Para te esquecer!
Joana G.
Foto: Christopher John Ball
sábado, maio 14
sem perguntas
A pergunta toma forma na minha cabeça, só para se extinguir logo em seguida, exangue.
Se a resposta me pode ajudar a compreender, o não precisar de uma representa a minha cura...
E é para lá que caminho.
silêncio
Calas o somDo que fala a verdade
Em ti.
E és o silêncio
Da voz que escondes
Na face que ri.
Joana G.
quinta-feira, maio 12
sonhos
EsquecidosOs nossos sonhos
Outrora tão perfeitos.
Perdidos
No desenrolar da vida
Que os viu desfeitos.
Joana G.
quarta-feira, maio 11
soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor... não canteO humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor presente
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius
campo
Ah!!... Que bem se está no campo!
terça-feira, maio 10
ferro e fogo
Arrancar-te de mim,Apagar os vestígios
De corpo e alma
Que deixei que imprimisses
A ferro e fogo
No que já não sou eu.
Joana G.
segunda-feira, maio 9
k's choice
Not so long ago
We both felt love became a word
No more than that
With sex that felt like wings without a bird
The only thing that we both love
Is in the cradle that we rock
Six hands, six feet, but just one beat
The ticking of the clock
I always heard I could get hurt
(I knew that from the start)
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
Solid wood will rot
If you don't keep it from the rain
We were surprised when we found out
That love feels just like pain
I always heard I could get hurt
I knew that from the start
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
K's Choice
telefonar
Não ia telefonar, porque não sabia como. Só sabia o que ela lhe diria "Ligas... e dizes 'olá'!".
sábado, maio 7
mágoa
Sento-me, para escrever, sobre mágoas que não quero saber que existem, em mim.
Encontro-as, uma a uma, paradas num espaço meu que procuro não perturbar.
Falo-lhes baixinho, e com voz doce, para que se abram para mim.
Conversamos longamente, sem pressas.
Sei-as já de cor, mas não as quero levar comigo.
Quero que fiquem aqui, neste lugar seguro, em mim, e que morram de velhice, sem dor, onde não as possa ver.
Foto: Mystic Isle de Keith Saint
quinta-feira, maio 5
luz
Quando a alma irrompeNum pranto contido
Que enrola na areia,
O mar revolto
Invade a praia
E apaga a candeia.
Acende tu a luz!
Joana G.
o fim de hitler
e também para quem leu, o filme A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich surge como um pedaço de história, falado na língua do ditador, que nos mostra os bastidores de uma guerra que ainda hoje faz sentir a sua presença!
quarta-feira, maio 4
índia
O desejo a impele ao encontro do amanteO receio a detém por um momento
Parece a seda de um estandarte
Que ora se abandona ora se furta ao vento.
Kalidasa
Índia, séc. V - tradução de Jorge Sousa Braga
Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro