terça-feira, setembro 20

sento-me...

Sento-me. Seguro a caneta e procuro as palavras, certas ou erradas, palavras que se disponham a falar por mim quando eu quiser recordar-me. Sei-as relutantes, afinal é uma grande responsabilidade assumir assim a história de vida alheia. Mas em quem confiar, se a minha própria memória me atraiçoa, por vezes? Sei que, às escondidas, a fiel depositária dos meus dias os torna mais suaves. Dever-lhe-ia estar grata, sei que no fundo só me quer poupar às duras penas de revisitar dias tristes, mas... Hoje, só me ocorre pensá-la não muito fiel! E, por isso, hoje, recorro às palavras, essas que se fazem difíceis aquando de assumirem esse fardo, mas as únicas que lhe permanecem fiéis assim que as convencemos a tomar em mãos essa tarefa ingrata.
Sento-me. Seguro a caneta e as palavras que vieram em meu auxílio guiam-na docemente através das páginas vazias, enchendo-as do negro da tinta, do negro do seu luto pelo fardo que tão nobremente carregam.
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