domingo, novembro 14

na noite

"Sentados nos carros, parados lado a lado, de vidro aberto, falávamos, entre sorrisos cúmplices, numa familiaridade que ainda não tínhamos, sobre trivialidades nada triviais em que nos desnudávamos lentamente! Não sei já o que foi dito, as palavras misturam-se entre o que disseste e o que hoje gostava de ter ouvido de ti, mas naquela noite tudo era ainda tão perfeito que pensei que fosse recordar para sempre até a entoação subtil com que vestias as frases! O eco do teu riso, porém, quase posso reproduzir, gravado em mim que o deixaste. E os trechos daquela música que cantaste... Ouvir Rui Veloso já não é igual desde essa noite de mistérios por desvendar, em que tudo era expectativa, em que o ontem deixara de existir e o amanhã era uma palete de promessas por concretizar. Perdidos que estávamos, não o vimos chegar, fomo-nos entregando a rituais contidos de ansiedades acesas a cada segundo de dias que nos fugiam.
Na noite em que os nossos corpos seriam a composição entrelaçada de uma arte perfeita... não o foram!"

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons License.