segunda-feira, novembro 21

carta de amiga

Eram 18 e pouco quando meti a chave na porta do prédio. Estafada. Caixa do correio. Um envelope verde, A5, almofadado. Lá dentro, uma fitinha de pano e um ratinho de brincar, para os gatos. Para mim, palavras simples, que me abraçaram. E um poema de Alexandre O'Neill.
A letra, que conheço tão bem, guardo só para mim, assim como o papel, e os seus vincos, e tudo o que compõe essa carta em linguagem não verbal. O poema partilho.
Obrigada, N.


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

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